Você pode até acordar bem-humorado e chegar disposto ao trabalho, mas só de se lembrar que terá que passar no mínimo oito horas do seu dia ao lado daquele colega insuportável, perde a disposição. Essa é a ideia defendida pelos especialistas no mundo corporativo: quando há um funcionário-problema no grupo, todos são prejudicados –ou pior: contagiados. "Há uma tendência de contratação pela capacidade técnica, mas o comportamento dos funcionários gera reflexos positivos e negativos na equipe e na corporação”, diz Carlos Ferreira, diretor executivo da 4hunter, empresa especializada em recrutamento e gestão de carreira.
Segundo o diretor da consultoria JCI Acquisition, José Carlos Ignácio, os funcionários-problema podem reduzir a produtividade e a motivação de todos, e a equipe pode julgar mal o trabalho do chefe que não faz nada a respeito. "Cada funcionário espera que o gestor seja capaz de planejar, dividir e cobrar as tarefas", diz ele. "Não há funcionário ruim, há má gestão".
Para Ignácio, a existência desse tipo de profissional parte de um recrutamento malfeito, sem dinâmicas de grupo e entrevistas adequadas. Há algumas explicações para que ele aja dessa maneira. Entre elas o consultor cita divisão desproporcional do serviço, despreparo do indivíduo e da equipe para executá-lo, falta de orientação (o que deixa o funcionário sem saber o que é esperado dele), ou ainda falta de supervisão. Conheça cinco perfis de funcionário que prejudicam a equipe:
O reclamão injustiçado
Como age: é aquele que passa o dia se queixando de algo que está fazendo ou lamentando da vida difícil que leva no trabalho. Para ele, nada está bom. Ele sente que não é valorizado o bastante, não tem oportunidade para crescer, só tem tarefas burocráticas a realizar. Durante uma reunião, começa a se queixar –podendo por à prova a autoridade do chefe e desestabilizar a equipe. Depois, no café, ele reclama aos colegas que há algo errado, que a equipe não está crescendo...
Como prejudica a equipe: convivência gera influência, segundo o diretor da consultoria JCI Acquisition, José Carlos Ignácio. O reclamão mina aos poucos o rendimento da equipe, que começa a questionar a falta de atitude do chefe. “Ele reclama tanto com todos que as pessoas não conseguem mais se concentrar e produzir", diz Carlos Ferreira, diretor-executivo da 4hunter, empresa especializada em recrutamento e gestão de carreira. Para Fábio Cunha, gerente da Michael Page, o funcionário-problema que se faz de vítima cria a imagem de que a empresa não valoriza os profissionais e, de tanto que repete o tema, isso pode acabar sendo considerado verdade pelos colegas.
O que fazer: para José Carlos Ignácio, esse tipo de funcionário deve ser chamado imediatamente pelo chefe para uma conversa exigindo uma mudança de postura. Se essa transformação não acontecer, é hora de ter uma atitude mais radical. “Uma pessoa de gênio muito difícil tem que entender que aquele lugar não é a casa dela. Quem vive reclamando pode não estar com um problema na empresa, mas na vida", diz.
O preguiçoso
Como age: é aquele funcionário que enrola para entregar as tarefas e que sempre inventa uma desculpa para não cumprir os prazos. Ele promete muito, mas entrega pouco.
Como prejudica a equipe: o acomodado reduz a média de desempenho da equipe e gera ansiedade em todos. "Os colegas não vão dizer que ele não está entregando, mas comentam entre si que todos terão que fazer hora extra por causa dele, e isso gera uma tensão”, diz Carlos Ferreira, diretor executivo da 4hunter. Se esse funcionário não é repreendido pelo chefe por ter um resultado abaixo dos outros profissionais, a equipe deixa de ver a necessidade de produzir com empenho e motivação.
O que fazer: esse é o funcionário-problema de resolução mais fácil para o chefe, segundo Fábio Cunha, diretor de Recursos Humanos da Michael Page. Como ele não tem o mesmo desempenho que os demais, sua demissão é a mais simples de justificar. “É preciso expor os motivos do desligamento aos funcionários, dizendo que ele não entregava o resultado esperado”, diz Cunha.
O rebelde
Como age: ele não aceita "feedback" ou não respeita as ordens e recomendações do chefe. Costuma agir assim ou porque colocaram outro em um cargo de chefia que ele esperava ocupar, ou por ter trabalhado em outro lugar e estar acostumado a ter maior independência.
Como prejudica a equipe: além de colocar todos em uma posição desconfortável ao desobedecer às ordens do chefe, ele tira a credibilidade do gestor. Além de deixar um clima péssimo no ambiente de trabalho.
O que fazer: esse é o funcionário-problema mais difícil de lidar, segundo Fábio Cunha, diretor de Recursos Humanos da Michael Page. “Se o chefe for demiti-lo, precisa mostrar para a equipe quais foram os motivos que o levaram a fazer isso, ou vai parecer algo pessoal. É bom contar com a ajuda do RH", diz. Antes disso, é preciso ter sucessivas conversas para tentar eliminar o problema. Se a rebeldia desse funcionário começou quando você foi promovido no lugar dele e você não agir, vai passar a imagem de que não está preparado para o cargo.
Insatisfeito com o salário
Como age: de comportamento parecido com o do reclamão, mas com uma queixa mais específica: a de que ele não ganha bem. Tende a falar para os colegas que o salário não é suficiente para o tanto de atividades que ele executa e que em outros lugares há funcionários recebendo melhor.
Como prejudica a equipe: o insatisfeito com a remuneração pode influenciar os outros colegas, que até então estavam felizes na empresa. “O colega até podia achar que recebia um bom salário, mas de tanto ouvir as queixas do outro, começa a questionar se ele também não ganha mal. É um passo para que ele comece a procurar outros empregos”, diz Fábio Cunha, diretor de Recursos Humanos da Michael Page.
O que fazer: o problema é difícil de ser detectado. Afinal, dificilmente a reclamação será feita diretamente para o chefe. Se descobrir um insatisfeito com o salário na equipe, é preciso conversar e avaliar se ele realmente merece um aumento. Se além de ter um salário justo, ele ainda não tiver o desempenho esperado, é interessante contar com a ajuda do departamento de recursos humanos.
O psicopata corporativo
Como age: ele mente, toma crédito pelo trabalho alheio, espalha mentiras, faz fofocas frequentemente e até humilha os colegas sem sentir a menor culpa.
Como prejudica a equipe: mais do que sofrer com as mentiras e humilhações, os membros da equipe não se conformam com o fato de os psicopatas corporativos não serem desmascarados. Como costumam ser simpáticos e carismáticos com os chefes, a tarefa é difícil. E o superior deve ser muito atento para perceber quando um funcionário toma o crédito pelo trabalho alheio. "O gestor precisa ter proximidade com o trabalho de todos para perceber isso. Se só observar o resultado final, o mentiroso receberá a recompensa de um trabalho que não fez, o que vai desmotivar toda a equipe", diz Fábio Cunha, da Michael Page.
O que fazer: esse funcionário exige uma atitude mais drástica: uma transferência ou demissão. "Tudo depende do trabalho de gestão. Um bom chefe não pode deixar que impere a falta de respeito", diz o diretor da consultoria JCI Acquisition, José Carlos Ignácio.
Uma última chance
A demissão deve ser encarada como a última alternativa. O ideal é chamar o funcionário para uma conversa, assim o chefe pode dizer o que espera dele e ouvir as justificativas do subordinado. “Pode ser uma pessoa que sempre deu bons resultados e apenas está num mau momento. O que é melhor para a empresa? Contratar e treinar outro funcionário ou passar por esse momento com ele?", pergunta Carlos Ferreira.
A conversa deve propor um acordo de expectativas, negociando prazos, postura e volume de trabalho. "É uma última chance", diz José Carlos Ignácio. Se ele não melhorar ou se esforçar, é hora de pensar em uma transferência de departamento ou demissão.
Se o chefe não conseguir avaliar a razão para o funcionário ter esse comportamento, é importante pedir intervenção da área de recursos humanos da empresa. "Se assumir toda a responsabilidade sozinho, o gestor pode ser leviano ou tomar uma atitude drástica, quando o problema pode ser apenas uma falta de alinhamento de ideias”, diz Fábio Cunha, diretor de recursos humanos da Michael Page, empresa de consultoria especializada em recrutamento.