O Banco Central iniciou a segunda-feira jogando duro, com a oferta de até 70 mil contratos de swap cambial reverso meia hora após a abertura dos negócios em São Paulo. O resultado foi a maior alta da moeda americana frente o real desde 23 de julho.
Após o leilão, o dólar acelerou os ganhos da abertura e fechou com alta de 0,94%, a R$ 2,030. O BC aproveitou a tendência externa de valorização para afastar a moeda americana da mínima desde o início de julho, R$ 2,011, registrada na última sexta-feira.
O leilão de ontem marcou a quarta intervenção do BC no mercado de câmbio desde a última quarta-feira, sempre com a oferta de swaps reversos, que têm o efeito de uma compra futura de dólares. No total, a autoridade monetária comprou o equivalente a US$ 5,7 bilhões por meio dos swaps, defendendo o piso de R$ 2 da banda informal - estimada entre R$ 2 e R$ 2,05.
"Nos últimos meses, o governo não anunciou mais medidas de peso para o câmbio, mas manteve o discurso de que prefere o real desvalorizado. O mercado fica ressabiado e acaba aceitando esse patamar perto de R$ 2", disse Gustav Gorki, sócio e economista-chefe da Quantitas, maior gestora de recursos da região Sul, com R$ 11,5 bilhões em ativos. "Medidas pequenas como esses leilões de swap já são suficientes para conter eventuais quedas do real e até para fazê-lo subir", afirma.
Para o economista, o mercado está certo em esperar um aumento no fluxo cambial para o Brasil, na esteira das medidas de estímulo do Federal Reserve. O volume, porém, não deve ser suficientemente alto a ponto de tornar inócuas as intervenções do BC.
"Gestores de grandes financeiras no exterior já começaram a sugerir que investidores assumam mais risco, e a bolsa brasileira está bem descontada. Isso deve influenciar o fluxo para o Brasil", disse Gorki. "Esse fluxo também deve ser direcionado para outros emergentes, por isso não vejo dificuldades para o BC defender o piso de R$ 2."
O cenário externo também contribuiu para a alta do dólar ontem. À medida que a euforia com o afrouxamento monetário feito pelo BC dos EUA diminui, investidores voltam a se preocupar com a Europa. A indefinição quanto à união bancária e o cronograma de adoção das reformas bancárias na zona do euro continuam pesando sobre o mercado. A tensão crescente entre China e Japão com a disputa pela soberania de um grupo de ilhas também reduziu o apetite por risco.
"O cenário interno não está gerando notícias suficientes para mexer no câmbio. Estamos totalmente dependentes do cenário externo", disse Octavio Vaz, sócio da Aquila Asset Management. A única pressão interna vem das intervenções do BC, disse.