Nos dias de hoje, se o mundo dos negócios pudesse resumir seus desafios a uma só palavra, a palavra seria pessoas. Lidar com os "funcionários" tem sido o maior dilema das empresas no momento. O que fazer para retê-los? O que fazer para estejam comprometidos ? O que fazer para que tenham iniciativa e responsabilidade ? Segundo pesquisa do Dieese em 2011, o índice de rotatividade no Brasil chegou a 54%. Isso representa mais da metade da força de trabalho do país mudando de emprego em um ano. E outra pesquisa da Catho Online mostrou que, em 2011, o tempo médio que um executivo ficou em uma empresa foi de 2 anos e 3 meses. Ainda mais alarmante é o fato dos especialistas de RH já estarem considerando isso uma tendência normal. Ou seja, as empresas que se preparem para lidar com esta rotatividade porque a tendência é só piorar.
Uma análise rápida nos permite chegar à seguinte conclusão: se uma pessoa sai do emprego ou é demitida, salvo raras exceções, é porque alguém está infeliz – ou a pessoa está infeliz com a empresa, ou a empresa está infeliz com a pessoa. Se ambos estivessem felizes um com o outro, não haveria motivos para quebra do vínculo. De fato, índices de rotatividade crescentes a cada ano significa que o ambiente de trabalho está se tornando cada vez mais, um ambiente ruim. Um ambiente onde as pessoas estão infelizes porque as empresas não são como elas gostariam que fossem, e onde os empresários são infelizes porque as pessoas não são como eles gostariam que fossem.
Em meus quase vinte anos de observação e interação com as pessoas de todos os níveis hierárquicos em dezenas de empresas, pude identificar que as causas da infelicidade das pessoas estão relacionadas a inúmeros fatores como por exemplo: ter que lidar com incoerências, vontades e vaidades de chefes, burocracias, disputas de poder, pressão e injustiças. Já a causa da infelicidade dos empresários se resume à falta de compromisso das pessoas.
Este cenário piora quando falamos de micro e pequenas empresas que ainda não possuem um horizonte de carreira claro para as pessoas. Além das dificuldades normais, estas empresas ainda são consideradas trampolins para que as pessoas possam ir para uma empresa maior.
As causas deste problema crônico de pessoas estão diretamente ligadas ao modelo de administração vigente no mundo empresarial, que se encontra em franca decadência. Este mesmo modelo de administração que é ensinado pelas universidades, vendido pelas consultorias e utilizado pela imensa maioria das empresas no Brasil. Um modelo que já possui mais de 100 anos. Desde que foi criado já se passaram 4 gerações, o mundo se transformou completamente, a mais de 20 anos entrou na era digital onde as pessoas passaram a conseguir acesso toda e qualquer informação que desejam conquistando poder de escolha, poder de conhecimento, poder de decisão. Apesar de tudo isso as empresas continuam se organizando e administrando pessoas da mesma forma que faziam nas décadas de 1910 e 1920.
Alguns podem argumentar que não, que a administração se modernizou, que existem muitas ferramentas novas sendo aplicadas e utilizadas pelas empresas. É, até que existem... Só que todas as ferramentas da administração funcionam como se fossem softwares de computador. Elas podem ser novíssimas, porém estão rodando sobre um sistema operacional antigo e ultrapassado. É como se até hoje estivéssemos desenvolvendo novos softwares para operar no antigo DOS. Na verdade o modelo da administração é um sistema operacional. Este sistema é composto por um conjunto de regras, ou premissas, que definem para senso comum como uma empresa deve operar. Estas premissas foram delineadas no início do século passado por Taylor, Fayol e Sloan, e constituem, até hoje, a base para a imensa maioria das ferramentas adotadas pela administração como Organogramas, Cargos e Salários, Planejamento Estratégico, Orçamento, Avaliações de Desempenho, Gestão de Pessoas, Gestão de Processos, Contratos de Resultado, Bônus e Incentivos(PPRs) etc...São sete as premissas que definem este sistema operacional da administração:
Propósito: empresas existem para aumentar a riqueza de seus donos (ou maximizar retorno para os acionistas).
Estrutura: empresas devem ter uma hierarquia vertical (representada graficamente por um organograma) onde a pessoa mais importante é o dono.
Funcionamento: empresas funcionam como máquinas, com processos super-especializados, medição numérica e causa e efeito linear.
Pessoas: pessoas nas empresas são "recursos humanos", ou peças que precisam se encaixar nas funções ou nos processos pré-definidos para a máquina.
Motivação: é externa, pessoas são motivadas por incentivos financeiros ou pela ameaça de perda dos mesmos.
Crescimento: crescimento pode ser planejado, ou seja, o tamanho da máquina pode ser definido, calculado e desenhado de acordo com o desejo dos acionistas e disponibilidade de recursos.
Liderança: liderar é gerir, e o gestor é escolhido por um superior hierárquico para garantir que a máquina funcione como planejado e gere os resultados esperados.
Estas premissas são interligadas como engrenagens e, quando inseridas no contexto de uma empresa, além de enquadrar as pessoas na condição de "recursos humanos" manipuláveis de acordo com o desejo de crescimento financeiro do dono, mecanizam o relacionamento entre estas pessoas tornando-os frios, hierárquicos e burocráticos. Ora, se as pessoas hoje possuem cada vez mais poder por terem acesso a informações, como podem estar felizes e satisfeitas quando são submetidas a premissas como estas ?
Elas não podem. Este modelo repele as pessoas. Por isso já está passando da hora de surgir um novo Sistema Operacional que permita às empresas se organizarem de maneira mais eficiente e sustentável, de acordo com as características do mundo atual. Este sistema operacional já existe. Nasceu dentro de empresas que, em algum momento de sua existência, rejeitaram o modelo da administração, e resolveram se organizar de maneira totalmente diferente. Toyota, Google, Southwest Airlines e a brasileira Semco são algumas destas empresas. Empresas que operam sob as seguintes premissas:
Propósito: empresas existem para gerar valor para a humanidade de maneira equilibrada e sustentável.
Estrutura: Empresas são conjuntos de times, células ou pessoas que se interagem horizontalmente visando gerar valor para o mercado.
Funcionamento: Empresa funcionam como organismos vivos, são adaptáveis e não lineares, ou seja, as partes devem conter o todo e o todo nunca é igual à soma das partes.
Pessoas: Pessoas são pessoas. Indivíduos com emoções e experiências altamente relevantes para o bom desempenho do sistema.
Motivação: É interna, pessoas são naturalmente auto-motivadas desde que trabalhem com autonomia, em ambiente que estimula o auto-aprimoramento, e movidas por uma causa nobre.
Crescimento: Crescimento é natural e é conseqüência do reconhecimento pelo valor entregue ao mercado. Organismos vivos crescem por si só, é necessário cultivar o ambiente para isso.
Liderança: O líder é escolhido pela equipe por ser sua maior referência, por ser aquele que demonstra maior paixão pelo propósito e pelas atividades das pessoas.
Estas são as sete premissas do sistema operacional que chamamos de Orgânico. Um sistema sustentável porque atrai as pessoas, porque reconhece o poder das pessoas, porque está focado na geração de valor equilibrado para todas as pessoas sem privilegiar ninguém. Um sistema que humaniza novamente as relações, que transforma trabalho em lazer, ser humano em atleta e equipes em times. Todos auto-motivados por estarem buscando excelência, com autonomia e se dedicando a um propósito nobre de entregar valor para humanidade.
O desafio de construir uma empresa Orgânica é um desafio único e exclusivo do empreendedor. Um líder que procura se aprofundar no conhecimento sobre o sistema orgânico e suas premissas até desenvolver plena convicção de sua viabilidade e eficácia terá avançado dois terços do caminho. O terço restante vem de atitudes condizentes e da educação da equipe.
Querem começar já? Comecem a ler estudiosos do assunto como Edward Deming, Peter Senge, Ricardo Semler e Niels Pflaeging. Leiam sobre a Toyota, sobre a Southwest Airlines, sobre o Google. Leiam O2 - Organizações Orgânicas, o livro que quebra o paradigma das sete premissas.
Precisamos começar a construir organizações onde as pessoas trabalham felizes, e onde o resultado seja conseqüência disso.