O baixo volume ajudou o dólar a marcar a quarta alta seguida e fechar na maior cotação em mais de quatro meses. Em dia esvaziado pelo feriado parcial em Wall Street, o câmbio continuou pressionado pelos ajustes de posições de bancos, realizados no fim da semana passada e pela crescente perspectiva de que a oferta de dólares deve diminuir no restante do ano.
A moeda americana fechou em alta de 0,2%, a R$ 2,051, maior cotação desde os R$ 2,076 registrados em 28 de junho. Segundo a clearing da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que registra cerca de 90% do movimento do interbancário, o volume negociado foi de US$ 1,056 bilhão, contra média diária de US$ 1,749 bilhão em novembro até sexta-feira.
"A posição técnica do mercado continua indicando alta. O ganho de hoje [ontem] ainda é, em parte, fruto dos ajustes realizados na sexta", disse Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez. Segundo ele, movimentos bruscos de alta da moeda, ou pequenas e constantes valorizações eventualmente podem provocar intervenções do BC na ponta vendedora. A forma de atuar seria através de swaps cambiais tradicionais, que serviriam para "devolver" os mais de US$ 5 bilhões do mercado hoje em poder do BC na forma de contratos de swap cambial reverso.
Os recentes fluxos cambiais, que mostraram mais saídas que entradas de recursos no país, devem se manter negativos no restante do ano, segundo profissionais do mercado. Nesse período, aumentam as remessas de lucros e dividendos de empresas estrangeiras instaladas no país. O cenário externo sem sinais de melhora também reduz as vendas de dólar no país.
"O cenário externo está ruim. O fim de ano será difícil", disse Italo Abucater, especialista de câmbio da ICAP Brasil. "Não deve faltar dinheiro, mas vai ter correria grande no fim do ano."
Em nota, o banco BNP Paribas prevê maior volatilidade no câmbio, dado que as "as condições técnicas melhoraram". Segundo Abucater, da ICAP, a volatilidade no mercado tende a se recuperar, mas gradualmente, seguindo expectativa de alta da moeda nos próximos meses.
Já as taxas de juros negociadas na BM&F fecharam ao redor da estabilidade em sessão que movimentou menos de um terço do giro médio diário deste ano, com os investidores atentos ao horizonte que combina pressões inflacionárias com a perspectiva de o Banco Central manter a taxa Selic estável em 7,25% ao ano.
As projeções de agentes reveladas no Boletim Focus, do BC, mostraram recuo na mediana para a Selic no fim de 2013 para 7,25%. Mas a mesma pesquisa apontou piora na expectativa para a inflação deste ano, com o IPCA de 2012 subindo de 5,44% para 5,46%.
Os comentário do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o Brasil não precisar ter "mais as taxas de juros de antigamente", não impactou nos negócios.
Hoje o foco se volta para a Pesquisa Mensal do Comércio feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em setembro. A média de estimativas de 11 consultorias e instituições consultadas pelo Valor Data aponta alta de 0,3% nas vendas na comparação com agosto.