O clima de ajuste nos mercados externos até chegou a ter algum impacto no mercado de câmbio brasileiro na parte da manhã, levando o dólar à máxima em uma semana. Mas entradas pontuais de recursos na parte da tarde acabaram prevalecendo. No fechamento, o dólar comercial caiu 0,54%, para R$ 2,035, o menor patamar desde 7 de novembro, quando encerrou cotado a R$ 2,034.
Operadores têm comentado que o dólar deve continuar oscilando nos atuais níveis nos próximos dias. De um lado, qualquer movimento de alta mais firme deve ser contido pelo Banco Central, seja por intermédio de leilões nos mercados à vista ou de derivativos. De outro, o ímpeto de queda é limitado pelas incertezas que pairam sobre o cenário externo, principalmente questões fiscais nos Estados Unidos.
Diante desse quadro, a expectativa é que os fluxos continuem deixando a desejar. Faltando apenas o dia 31 para ser contabilizado, dezembro caminha para ser o pior em termos de saldo em quatro anos. A entrada líquida de US$ 312 milhões entre os dias 24 e 28 apenas gerou um pequeno alívio, mas o saldo no mês ainda é negativo em expressivos US$ 6,755 bilhões. Apenas a fuga de capitais em novembro de 2008, no meio da crise internacional, supera essa marca.
A ligeira recuperação do fluxo contratado na semana passada foi puxada pelas operações comerciais, que registraram superávit de US$ 589 milhões. Do lado financeiro, no entanto, houve déficit de US$ 276 milhões. No acumulado do ano, o fluxo ainda é positivo em US$ 16,753 bilhões, bem abaixo do saldo exuberante de US$ 65,279 bilhões registrado no mesmo período de 2011.
"A situação como um todo não está boa. Não tem demanda lá fora para nossas exportações e a gente continua sofrendo com problemas de competitividade, que não serão resolvidos do dia para a noite", afirma o economista da Tendências Consultoria Bruno Lavieri.
Do lado financeiro, ele chama atenção para o fato de algumas medidas de controle de capitais, como o IOF nos derivativos cambiais, ainda persistirem, o que em algum grau colabora para desestimular uma entrada maior de recursos, mesmo com o recente desmonte de outras ações, que não favoreciam ingressos expressivos de recursos.
Apesar de não acreditar em entradas mais robustas nos próximos meses, o economista da Link Investimentos Thiago Carlos diz acreditar que as medidas já tomadas para melhorar a liquidez terão o impacto notado. "O BC flexibilizou as regras para pagamentos antecipados em dezembro, mas ainda é preciso mais tempo para o exportador voltar a ficar mais confiante. Talvez neste mês já vejamos alguma melhora, embora modesta", afirma.
No mercado de juros, as taxas negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam a segunda sessão do ano com leve tendência de queda, ainda ao redor da estabilidade, em mais um pregão de giro reduzido.
A ausência de indicadores de preços e de atividade ou de declarações de integrantes do governo sobre política monetária deixou os investidores desconfortáveis para assumir posições contrárias à aposta que é predominante neste mercado: a que projeta a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, nos atuais 7,25% ao longo dos próximos quatro trimestres pelo menos. (Colaborou João José Oliveira)