Os empreendedores, cheios de coragem, sonhos e planos, ousaram e tomaram a decisão de montar o seu próprio negócio. Aprendendo com os acertos e erros, muitos destes conseguem levar adiante seu projeto e vencem os desafios, mesmo diante de forte concorrência e da necessidade contínua de se adaptar ao mercado e às expectativas dos clientes. Logo de início, a maior parte necessita contratar pessoas e formar suas equipes de trabalho. Assim, sua forma de trabalhar toma corpo e, com o tempo, o fluxo de atividades tende a tornar-se rotina.
A rotina do empreendedor, na maioria dos casos, não é fácil. Começa muito cedo e termina muito tarde. Ele precisa estar atento a tudo e a todos. Os detalhes e as decisões passam por ele. Os clientes são atendidos por ele, os fornecedores também, as compras, é ele quem resolve. As contratações, demissões e o treinamento da equipe, também são feitos por ele. Enfim, tudo necessita de seu olhar, de sua ação e aprovação. De certa forma, isso é compreensível pelas questões dos custos e de estrutura, mas, vamos avaliar esta situação por outro prisma.
Se várias atividades dependem somente da ação do proprietário do negócio, então, todo processo está limitado à sua capacidade de produzir e de decidir. Ou seja, se ele empreende uma jornada diária insana (e muitos fazem isso) das seis da manhã às dez da noite, com pouquíssimo tempo para refeições, então, o crescimento da empresa está comprometido, porque se tornou dependente da capacidade limitada de produção de uma única pessoa.
Quando a pequena empresa já conseguiu se estabelecer no mercado, conseguiu conquistar uma boa carteira de clientes e, se até estiver perdendo negócios por não ter condições de atender ao volume que o mercado demanda, então, é preciso reavaliar a postura do empresário. Pois, neste caso, este empresário certamente deve estar dominado por aquilo que este autor chama de “síndrome do pequeno empresário”.
Na concepção deste autor, a síndrome do pequeno empresário se dá quando ele não acredita que pode crescer mais. Quando ele não acredita que os seus colaboradores podem tomar decisões importantes em seu lugar. Quando ele não cria sistemas (informatizados ou não) para que outros decidam em seu lugar, sem que questões importantes relacionadas à lisura financeira, extravios ou mau uso de mercadorias, qualidade geral, entre outras, sejam afetadas. Quando ele não se espelha nas grandes empresas, que possuem várias unidades e que funcionam muito bem sem a presença de seu proprietário. Ou seja, quando a empresa não cresce mesmo quando tem mercado para isso. Neste caso, a tendência é que os anos passem e ela continue do mesmo tamanho (com o perigo de encolher), perdendo mercado e oportunidades, deixando que outros empresários, com uma visão diferente, tomem seu lugar.
Com intuito de ajudar o empreendedor, que se encaixe nestas situações, a mudar sua realidade e inserir sua empresa no cominho do crescimento, seguem alguns conselhos:
- Lembre-se que trabalhar demais acaba afetando a vida familiar e até mesmo a saúde, então, determine um limite. Oito horas diárias, com direito há pelo menos um dia de descanso na semana, já é um bom começo.
- Como você é empresário, deveria agir mais estrategicamente do que operacionalmente, então, use suas horas de trabalho para pensar, se informar e desenhar estratégias para a melhoria das atividades e crescimento de sua empresa.
- Mantenha bom relacionamento com os principais clientes e fornecedores. Mantenha-se próximo dos líderes e da equipe de trabalho e com eles tome as decisões mais importantes. Avalie relatórios de desempenho do negócio e das pessoas. Estas atividades sim fazem parte da boa gestão;
- Crie “sistemas de senhas e contra-senhas”. Tanto em sistemas informatizados como em processos de trabalho. Exemplo: alteração de um valor registrado no caixa onde a compra do cliente foi de R$100,00, mas, por um erro do colaborador, foi registrado R$150,00. Para mudar este registro, o colaborador registra sua senha e alguém de cargo de supervisão autoriza (contra-senha). Este pequeno exemplo vale para cadastros de clientes, registros de movimentação bancária, pagamentos e recebimentos, entre outros. Já em termos de processos de trabalho, use sempre a lógica: um faz, outro confere e um terceiro revisa (cargo de chefia de preferência). Lembre-se do exemplo dos bons restaurantes de estrada: quando entramos alguém nos entrega um cartão, depois, outra pessoa nos atende no balcão e registra nosso pedido neste cartão, cujo consumo será confirmado e cobrado por outro profissional em nossa saída do estabelecimento. Este é um bom exemplo de uso de “senha e contra-senha” no processo de trabalho.
- Crie cargos e delegue responsabilidades. Invista tempo em ensinar como gostaria que o trabalho fosse feito e com que qualidade. Não tenha medo de investir na contratação ou promoção de colaboradores para cargos de chefia. Quem tem medo de fazer isso não confia na capacidade de sua equipe, não acredita no potencial de crescimento de sua empresa e, portanto, não se livrará do peso de ter que tomar todas as decisões. Para contratar e promover é preciso critérios, cujos conhecimentos podem ser adquiridos com consultorias especializadas e treinamentos. Lembre-se, tão logo as chefias estejam revestidas de poder, são elas que deverão detectar a necessidade de contratação e conduzir todo processo (com ou sem apoio de terceiros). Assim, o empresário se preocupará mais com a avaliação de desempenho de seus líderes do que com atividades rotineiras.
Sem dúvidas, quando o objetivo é se libertar das amarras que impedem o crescimento do empreendimento, existem outras situações que demandam atenção do pequeno empresário, além de questões específicas de cada ramo. Cada um conhece sua realidade e deve avaliar as melhores alternativas. Contudo, a ideia de que tudo só deve funcionar se ele estiver à frente, deve ser excluída da lista de conceitos do empreendedor, porque senão, ele continuará vítima da síndrome do pequeno empresário e jamais verá sua empresa crescer, gerar muitos empregos para a sociedade e renda para ele e para os que dele dependem.