Em um treinamento de gestão, pede-se aos alunos que tracem uma estratégia para chegar ao alvo que vai ser colocado no meio da sala. Cada equipe tem que calcular o número de passos até o objetivo e os custos que o trajeto vai representar. Vence o grupo que fizer o caminho mais rápido e barato.
O problema é que de tão entretidos pelo desafio os participantes não percebem que o professor muda o alvo de lugar antes do início da disputa. A simulação não deixa de ser uma metáfora do que acontece no dia a dia das companhias.
"As empresas precisam ser mais ágeis às mudanças de mercado", afirma Manoel Pimentel, coach da Adaptworks, empresa de TI e de capacitação em gestão.
É nesse contexto de mudanças repentinas provocadas, em grande parte, pela crise financeira que surgiu um movimento que se propõe a discutir a gestão das companhias e criar possíveis alternativas.
Conhecido como Stoos, o movimento reuniu, em janeiro do ano passado, executivos, estrategistas de negócios, gestores e acadêmicos, na Suíça. Eles abordaram questões referentes à gestão e liderança nas organizações e desenvolvimento de pessoas.
Um dos frutos do evento foi o Stoos Network, uma rede que permite que as discussões continuem pela internet. Desde a criação do grupo, já foram realizados outros eventos, como o Stoos Stampede, em Amsterdam e em Phoenix, e o Less 2012 em Tallinn (Estônia).
"O Stoos abarca diversos conceitos que estão sendo estudados ou experimentados no mundo corporativo. Um deles é o da gestão 3.0", esclarece Pimentel.
De acordo com o especialista, a forma de liderança dentro das companhias foi sendo alterada com o passar do tempo. Na gestão 1.0, a estrutura era totalmente hierarquizada e esse modelo perdura até que aparecem os primeiros problemas de governança e de qualidade, por exemplo.
É, neste momento, em meados da década de 1990, que surge a gestão 2.0 que aceita uma certa abertura - em determinados casos - para tentar resolver os problemas, como o 5S.
"Nesses dois modelos, acreditava-se que era possível prever o que ia acontecer na organização e que os comportamentos poderiam ser repetidos. Mas são sistemas dinâmicos e muito mais complexos do que se imaginava", diz.
A gestão 3.0 (ou ágil) encara as organizações como redes, e não como hierarquias; e nessas redes as pessoas e seus relacionamentos devem estar no foco da gestão, mais do que os departamentos e seus lucros.
A visão é mais holística - leva em consideração sustentabilidade e bem-estar dos funcionários, por exemplo.
Entre as companhias brasileiras que estão à frente nesse movimento, estão a própria AdaptWorks e a Bluesoft, que faz gestão de supermercados. "Não ter hierarquia fixa e, sim, líder por projeto aumenta a motivação dos funcionários", aponta Pimentel.
Segundo o especialista, as mudanças acontecem pela dinâmica da rede e nem sempre começam de cima para baixo.
"Muitos funcionários procuram saber o que está acontecendo e acabam levando os conhecimentos para dentro das empresas."
Para Pimentel, as empresas brasileiras estão um estágio anterior quando comparadas às estrangeiras - principalmente europeias. É que, por aqui, ainda discute-se as formas de transição do modelo 2.0 para o 3.0, enquanto lá fora os debates são sobre as formas de propagar as mudanças.
"Também acho a cultura hierárquica mais enraizada no Brasil. Isso se dá até pelo fato de os universitários saírem das faculdades com essa mentalidade."