A despeito da prolongada crise mundial, há uma tendência positiva no Brasil, de expansão da abertura de empresas. Levantamento recente da Junta Comercial do Estado de São Paulo aponta crescimento de 5%, em relação ao ano anterior, no número de firmas constituídas em 2012, quando nasceram 464 mil negócios na economia paulista.
A tendência é corroborada por recente e interessante pesquisa da União Europeia, realizada na região e nas maiores economias do mundo, na qual nos posicionamos como uma das nações com maior tendência ao empreendedorismo. O estudo apontou que 63% dos brasileiros apreciam ter um negócio próprio, ante 33% dos que preferem trabalhar como empregados. O resultado coloca nosso país em segundo lugar dentre os pesquisados, universo que inclui os 27 membros da União Europeia e mais 13 nações, dentre elas a China, Estados Unidos, Rússia, Índia e Japão. Em primeiro está a Turquia, com 82%. Os índices mais baixos registraram-se na Itália (6%), na União Europeia e no Japão (ambos com 9%).
Estudo nacional, realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mostra que o Brasil tem 27 milhões de pessoas dedicadas ao próprio negócio próprio ou empenhadas na criação de uma empresa. Nesse relatório estamos posicionados em terceiro lugar dentre 54 nações, perdendo somente para a China e os Estados Unidos no número de empreendedores.
O relatório aponta o perfil e as características do empreendedorismo em cada uma das nações pesquisadas. Nesse sentido, evidencia que os empreendedores representam 27% da população adulta brasileira, com idade entre 18 e 64 anos. O número apresentou crescimento de seis pontos percentuais em dez anos.
Os números, tanto do Estado de São Paulo, quanto da União Europeia e do Sebrae, são estimulantes, demonstrando que a iniciativa de abrir empresas faz parte da cultura profissional dos brasileiros. Ótimo, mas criar um negócio não é suficiente. É fundamental mantê-lo vivo. Há duas frases de Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, que ilustram muito bem essa dicotomia: “Para ter um negócio de sucesso, alguém, algum dia, teve de tomar uma atitude de coragem"; “gerenciamento é substituir músculos por pensamentos, folclore e superstição por conhecimento e força por cooperação”. Eis uma receita de sucesso para premiar o esforço e a iniciativa de abrir um negócio.
Nesse sentido, precisamos avançar muito no Brasil, pois é preocupante um dado contido no último estudo do IBGE sobre o tema: de cada cem empresas abertas no País, 48 encerraram suas atividades em três anos. Segundo a pesquisa, divulgada no segundo semestre de 2012, de um total de 464.700 firmas que iniciaram suas atividades no Brasil em 2007, 76,1% continuavam no mercado em 2008, 61,3% sobreviveram até 2009 e apenas 51,8% ainda estavam abertas em 2010. Ou seja, quase a metade pereceu no caminho.
De acordo com o Sebrae, dentre as principais razões para a mortalidade precoce das firmas brasileiras estão a falta de planejamento e o descontrole na gestão. Felizmente, há remédios eficientes contra esses males que matam empreendimentos, ceifam empregos e desperdiçam investimentos. A receita é a boa gestão, que começa com a permanente atualização em relação ao seu mercado. Administração eficiente também exige planejamento, estabelecimento de objetivos e metas, planos de ação, avaliação dos resultados e boa política de recursos humanos, desde a seleção até a preservação dos talentos, passando pela boa contabilidade, essencial ao equilíbrio financeiro.
É preciso ter sempre em mente o significado do capital humano, pois o grande fator impulsionador das corporações são as pessoas. Dessa maneira, toda a gestão de pessoal deve ser pensada e direcionada de maneira estratégica, para que se mantenha sinergia entre os colaboradores e destes com os objetivos da empresa e o foco dos negócios. Políticas equivocadas de RH comprometem sobremaneira a sobrevivência do negócio. Colaboradores estimulados, que se sentem reconhecidos e importantes no contexto da organizam contribuem muito para o seu permanente sucesso e crescimento.
Outro fator crucial refere-se à profissionalização da empresa, seja ela de grande, pequeno ou médio porte, familiar ou não. Nos mercados atuais, cada vez mais seletivos e competitivos, não se pode pensar, nem de longe, em improviso e amadorismo. A profissionalização implica adotar práticas administrativas mais racionais e menos personalizadas. Trata-se do processo de valorização de gestores capacitados, identificados com a cultura organizacional e os objetivos da firma.
Outro quesito fundamental da boa gestão é a qualidade dos serviços e/ou produtos. De nada adiantará manter práticas internas corretas, se os clientes ou consumidores não estiverem satisfeitos com o que compram da empresa. A insatisfação destes é letal para qualquer negócio. Finalmente, é decisiva para a sobrevivência das empresas a gestão contábil, de modo a garantir a estabilidade financeira, fluxos adequados de recebimentos e pagamentos, recolhimento de impostos e taxas e o cumprimento de todos os compromissos com fornecedores e colaboradores.
A empresa bem gerida consegue enfrentar de modo muito mais eficaz as turbulências do mercado e as crises econômicas. Do mesmo modo, está sempre pronta a aproveitar os momentos favoráveis para crescer, consolidar-se em seus mercados e se tornar cada vez mais resistente aos fatores que causam o fim de muitos negócios.