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Dólar supera R$ 2,30 e BC faz maior intervenção em anos

A preocupação maior da autoridade monetária com uma nova disparada do dólar decorre dos efeitos desse movimento na inflação, que em 12 meses segue batendo no teto da meta, de 6,5%.

Fonte: Valor Econômico

O Banco Central adotou a postura mais atuante no mercado de câmbio desde o auge da crise financeira de 2008, ao realizar ontem três leilões de swap cambial tradicional (derivativo que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro) no mesmo dia. Para especialistas, o Banco Central teve a clara intenção de marcar território e passar a mensagem de que defenderá o teto de R$ 2,30 para o dólar no curto prazo ou, pelo menos, agirá para que uma nova mudança de patamar no câmbio ocorra de maneira suave.

Considerando apenas operações de swap cambial, foi o maior número de intervenções em apenas uma sessão desde agosto de 2002, quando o dólar operava acima de R$ 3,00 pressionado por uma intensa desconfiança de investidores no plano político. Durante a crise de 2008/2009, o BC chegou a fazer mais intervenções num único dia, com a venda de swaps cambiais junto com injeção de moeda diretamente no mercado à vista, tentando conter a pressão cambial causada pela brusca queda de liquidez em todo o mundo.

A preocupação maior da autoridade monetária com uma nova disparada do dólar decorre dos efeitos desse movimento na inflação, que em 12 meses segue batendo no teto da meta, de 6,5%. Os profissionais avaliam que, uma vez alcançado o teto "psicológico" de R$ 2,30, a tarefa do BC pode ficar mais difícil, e a autoridade monetária poderia ser levada a voltar a injetar dólares diretamente no mercado, ainda que o quadro não indique problemas de liquidez.

Ontem, a agitação começou a tomar conta do mercado cambial logo após a primeira hora de negócios, depois de os Estados Unidos divulgarem dados acima do esperado de crescimento da economia (PIB) e emprego. O dólar ganhou força rapidamente e superou os R$ 2,30, levando o Banco Central a anunciar o primeiro leilão de swap cambial do dia.

A pressão sobre o real, contudo, não foi aplacada, e o BC anunciou um segundo leilão, ofertando novamente 30 mil contratos. Com a moeda ainda pressionada, o BC intensificou a intervenção e anunciou um terceiro leilão de swaps, com oferta de 15 mil papéis. Contudo, a autoridade monetária não conseguiu colocar nenhum contrato nessa última intervenção. No total, o BC vendeu US$ 2,25 bilhões, de uma oferta de US$ 3,75 bilhões.

Na avaliação do gerente de derivativos cambiais da CGD Investimentos, Jayro Rezende, o cenário para o dólar no Brasil está adquirindo contornos que exigem uma atuação mais incisiva do Banco Central.

"No terceiro leilão, o BC deveria ter voltado a ofertar 30 mil papéis. Uma oferta maior passaria uma mensagem mais firme de controle do movimento do dólar. Não estamos falando aqui de impedir movimentos, mas sim de suavizá-los, e esse é o papel do BC", afirma Rezende.

Com as vendas de swap, ontem, o BC elevou sua posição passiva em dólar - ou seja, que ganha com a queda da moeda americana - a US$ 29,102 bilhões, considerando apenas o estoque do BC em swaps cambiais.

Para a estrategista de câmbio para a América Latina do Royal Bank of Scotland, Flavia Cattan-Naslausky, a contínua alta do dólar a despeito de uma intervenção dessa magnitude denuncia que o mercado perdeu a "referência" da moeda brasileira.

Segundo ela, os três leilões de swap cambial tradicional realizados pelo Banco Central somente ontem chancelam a ideia de o nível de R$ 2,30 ser um teto a ser firmemente defendido pela autoridade. "Mas, uma vez que o dólar já alcançou esse nível, vai ficar mais difícil para o BC evitar novas altas e isso exigiria que ele ampliasse e intensificasse as intervenções", diz.

Para Flavia, o quadro ainda não indica problemas de liquidez, mas o fato de o BC ter elevado sua posição vendida em dólar pelos contratos de swap a quase US$ 30 bilhões desde maio e, ainda assim, a moeda ter se mantido em alta mostra que a autoridade monetária pode precisar injetar dinheiro diretamente no mercado.

"Os leilões de linhas de dólares seriam uma opção. Mas ainda acredito que o BC vai continuar usando os swaps, já que a questão não envolve uma falta de liquidez, e sim especulação", diz.

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