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Eles têm dinheiro, mas são pobres. Conheça os erros financeiros dos abastados

Sensação de que os recursos nunca vão acabar é a maior armadilha rumo ao fundo do poço, dizem especialistas

Autor: Taís LaportaFonte: IG - Economia

Não são poucas as histórias de ganhadores de loteria que ficaram pobres em pouco tempo. Uma das mais conhecidas é a do baiano Antônio Domingos, que nos anos de 1980 recebeu um prêmio equivalente a R$ 30 milhões, mas torrou toda a grana até precisar trabalhar como garçom para sobreviver, por um salário mínimo.

Domingos chegou a morar na suíte presidencial de um luxuoso hotel em Salvador. Excessos e ostentação resumiam a vida de rei que levava. Comprava carros e itens de luxo como se o dinheiro não tivesse fim. Mas ele acabou em cinco anos. Depois disso, não restou um patrimônio sequer na vida do baiano.

Nem é preciso ganhar milhões em um dia para fazer asneiras com o dinheiro. Esse tipo de comportamento é mais comum do que se imagina não só entre a classe A, mas também a B, apontam especialistas financeiros ouvidos pelo iG.

Nada menos que 39% dos inadimplentes brasileiros pertencem à classe B, segundo uma pesquisa da Boa Vista Serviços divulgada este mês. Para o governo brasileiro, quem recebe acima de 10 salários mínimos por mês, ou R$ 7.240, já é considerado rico. À classe A, pertence quem tem renda familiar acima de 20 salários mínimos, o equivalente a R$ 14.500.

“Quem recebe salários muito altos, em geral, tem acesso mais fácil ao crédito e mais chances de se endividar”, explica o planejador financeiro da Dinheiro em Foco, consultoria que ajuda famílias a equilibrarem suas finanças, Ricardo Fairbanks Cacciaguerra.

O descontrole financeiro é comum, também, entre pessoas esclarecidas e com alta escolaridade, diz o consultor, como professores de pós-graduação ou médicos que chegam a ganhar R$ 30 mil por mês.

Cacciaguerra chegou a receber em seu escritório um herdeiro de patrimônio de R$ 10 milhões que, afogado em dívidas, mal conseguia pagar as contas do supermercado. Parece difícil imaginar que alguém consiga chegar a tal nível de endividamento com essa fortuna, mas basta perder a noção das finanças, comprometendo a renda mensal com dívidas exorbitantes, comenta.

O consultor explica como isso é possível: para quem tem muitos zeros na conta, a preocupação com o orçamento costuma ser menor. Comprar um imóvel de R$ 3 milhões, financiado, a prestações de R$ 16 mil, pode parecer plausível. Mas somando outros gastos para manter este padrão, como condomínio, IPTU e empregados, chega-se facilmente a despesas mensais de R$ 50 mil. E nem sempre se tem essa renda.

A resistência em cortas despesas, muitas vezes é o que leva os ricos ao fundo do poço. “Quando a pessoa é jovem, é mais fácil convencê-la a mudar de padrão. Os mais velhos resistem, por medo de mostrar à sociedade que ‘acabou a festa’”, comenta Cacciaguerra.

Para o especialista em educação financeira e escritor de livros de finanças pessoais, Gustavo Cerbasi, os ricos têm tantos problemas financeiros quanto os pobres. “A vantagem das famílias de alta renda e/ou elevado patrimônio é que possuem uma margem maior para assumir erros sem perder totalmente sua condição de conforto ou de dignidade”, diz.

Enquanto as famílias de renda mais baixa entendem por problemas financeiros apenas a falta de dinheiro para pagar as contas, aponta Cerbasi, nas famílias de padrão mais elevado os erros mais comuns são multas por atraso de compromissos (pela maior complexidade das finanças), perda de poupança por má gestão do orçamento, problemas judiciais, e redução no padrão de vida por excessos cometidos, por falhas ou falta de planejamento.

Em dimensões diferentes, os problemas financeiros são muito semelhantes entre as classes sociais. “É comum a famílias de todos os níveis de renda que as grandes escolhas, como compra de casa e carro, sejam mal dimensionadas e acabem por inviabilizar um grande número de pequenas escolhas relacionadas ao lazer, cuidados pessoais e consumo cotidiano”, conclui Cerbasi, autor do livro “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”.

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