Pequenas e médias indústrias químicas já dão sinais de que a forte alta do dólar frente ao real nos últimos meses está pressionando o setor. Muito dependente de insumos importados, a cadeia vem sofrendo com a valorização cambial.
O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, Evandro Ferreira Figueiredo, conta que pelo menos 10 empresas, na maioria pequenas, tentam negociar o parcelamento do pagamento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), que deveria ter sido depositado à vista aos trabalhadores até 31 do mês passado.
"As empresas tem dito para nós que o dólar aumentou o custo de importação de insumos e que também está havendo uma redução no número de pedidos. Nesse cenário, as pequenas empresas são as que mais sofrem."
Mesmo sem registrar demissões, alguns outros sinais de enfraquecimento das pequenas começaram a surgir. Segundo Ferreira, a Auto Metal, que atende montadoras, colocou 80 dos cerca de 350 funcionários em férias coletivas no final de fevereiro.
"Ainda não estão acontecendo demissões em massa, mas não descarto esse cenário para os próximos meses, em especial entre as pequenas e médias", prevê o sindicalista do ABC Paulista.
Na Bahia, outras duas pequenas empresas procuraram o sindicato local por dificuldades na produção e a CiaPlástico propôs ao sindicato readequar seus turnos de produção para reduzir custos.
"Ainda não sentimos redução de demanda para as grandes empresas, mas as pequenas estão sentindo o peso do fraco crescimento e o impacto do aumento do dólar no custo de importação", afirmou o diretor do Sindicato dos Químicos da Bahia, José Bonfim.
Balança comercial
De acordo com o sócio diretor da consultoria Maxiquim, João Luiz Zuñeda, metade do déficit da balança comercial da indústria química brasileira em 2014 estava relacionado a importação de insumos.
"No ano passado, a balança comercial foi deficitária em praticamente US$ 32 bilhões. Desse total, pelo menos US$ 16 bilhões está relacionado com a importação de insumos. Para muitas empresas, o custo de matéria-prima aumentou 30% de 2014 por conta da valorização do dólar. No curto prazo isso traz um impacto negativo para as contas das empresas", afirmou Zuñeda.
Por outro lado, o dólar valorizado frete ao real é positivo para as empresas que exportam e para algumas que ganham competitividade em relação ao produto importado, pondera o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo.
Ele explica, porém, que existem insumos que não são mais produzidos no Brasil o que obriga as empresas a comprar de fornecedores externos. "Em 2005, 10% do mercado era suprido produtos importados. No ano passado esse índice chegou a 35%", afirmou.
Frente Parlamentar
O presidente da Unigel, Henri Slezynger, defende medidas de estímulo ao setor como, por exemplo, a volta das regras antigas do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra).
O Reintegra foi criado em 2011 e devolve uma alíquota de até 3% do faturamento das empresas com exportação como compensação por impostos indiretos cobrados na cadeia de produção. Em fevereiro, entretanto, o ministro da Fazenda Joaquim Levy, diminuiu o teto dessa alíquota para 1% como parte da politica do ajuste fiscal que está sendo implementado pelo governo.
"Não podemos pensar só no curto prazo. O Reintegra gera custos, mas incentiva as exportações e o crescimento do país", afirmou Slezynger.
Para fazer frente as dificuldades da cadeia produtiva, uma Frente Parlamentar Mista pela Competitividade Produtiva do Setor Químico, Petroquímico e de Plástico foi relançada ontem, em Brasília (DF).
"O setor tem sido negativamente impactado pelo aumento da carga tributaria, aumentos do preço da energia e redução do Reintegra", destacou, em nota ao DCI, o presidente da Solvay Coatis, José Matias. O executivo participou do lançamento da Frente Parlamentar representando a Rhodia e o Grupo Solvay.